Capítulo 2 – “Mais perto dos olhos..E do coração”
Sandara acordou diferente naquela manhã. Levantou cedo, preparou o belo café, colheu flores no jardim, estava cantando uma canção. Não queria chegar atrasada de jeito nenhum na escola de novo. “E perder aqueles olhos?Jamais.”. No que estava pensando? Escola foi feita pra estudar e não pra paquerar.
Desde que os pais de Sandara morreram, há 10 anos, a sua avó Mayo tem sido a sua única família. A simpática vovó May, carinhosamente chamada por Sandara, fazia questão que a neta estudasse nas melhores escolas e que tivesse uma vida normal de adolescente, e não que passasse toda a sua juventude trancada em casa cuidando dela. Vovó May tinha uma doença muito grave nos pulmões e necessitava de cuidados extremos.
“Você está tão diferente, minha Dara.. Tão alegre desde de ontem.. Diga-me, tem muitos garotos bonitos na escola nova?” perguntou com um tom travesso.
“O quê? Vovó? A senhora tem cada pergunta...” ela ficou visivelmente vermelha.
“Eu perguntei se você conheceu alguém especial”
“Sim, tem muitos garotos bonitos na escola..” tentando disfarçar
“Não esconda nada, minha querida. Sabe que pode conversar sobre tudo comigo. Não sou uma avó careta...” vovó May era tão carinhosa que somente a sua doce voz fazia com Sandara acalmasse seu coração.
“Eu prometo que conto tudo pra você quando voltar da escola.” Revelou tímida.
“Está certo, então. Vou ficar esperando ansiosa.”
Uma buzina de carro toca. Sandara e vovó May se assustam.
“Quem pode ser?”
“Deve ser o entregador da farmácia. Pode deixar que eu atendo. Vá terminar de se arrumar ou vai chegar atrasada de novo.” Vovó May se apressa com seus passos curtinhos. Ela não conseguia identificar o rosto, então ela foi até o portão. Ajeitou os óculos para poder enxergar direito. “Esse não pode ser o entregador da farmácia. Tão jovem e bonito” ela fitou-o dos pés à cabeça. Era o Jiyong.
“Olá? Essa a casa da Sandara não é? Ela ainda está em casa?”
Vovó May, continuou ajeitando os óculos pra enxergá-lo melhor. Ele deu um sorriso adolescente e seus olhinhos apertados decoraram o seu rosto. Vovó May sorriu de volta.
“Ah sim. É sim, meu rapaz. Vou chamá-la” ela andou depressa. Jiyong achou engraçado o andar dela.
“Dara, minha filha. Agora já sei por que você está tão feliz. Ele é muito bonito. E simpático” vovó May falou com a inocência de uma criança. Sandara ficou sem entender nada.
“De quem a senhor está falando, vovó?” Ela vai até janela e vê o Jiyong encostado no portão. Naturalmente ela ficou surpresa. “Como foi que ele descobriu o meu endereço?...Ahh, espera um pouco..Eu sei como!” pensou. Ela vai até o portão.
“Bom dia, Sandara. Vim te buscar pra ir pra escola. Dessa vez não vamos chegar atrasados.” Quem poderia resistir àquele sorriso infantil do Jiyong. Ele era tão cativante.
“Tudo bem. Por acaso você virou o meu motorista particular?”
“Não se preocupe com isso. Você se preocupa demais..” falou abrindo a porta do carro pra ela. Mais atrás a vovó May vinha andando discretamente. Ela deu sorrisinho engraçado pra neta, que ficou envergonhada.
“Vão com cuidado, viu?”
“Não precisa se preocupar. Comigo ela está segura” Jiyong falou aquilo com tanta certeza que qualquer um acreditaria que ele é bom motorista, mesmo sem ter permissão.
Imagina a cena: Jiyong chegando à escola com Sandara e todos olhando pra eles como se fossem um casal de E.Ts. E foi exatamente assim que ela se sentiu. Não que ela não gostasse dele, mas é que aquela situação toda já estava ficando meio estranha.
“Você sempre veio dirigindo pra escola?” perguntou Sandara
“Sempre não.. Meu pai de deu um carro de presente quando fiz 16 anos. Então eu pensei que não fazia sentido deixar essa belezura guardada na garagem de casa.”
“Só acho que você deveria ter mais cuidado. Prestar mais atenção na velocidade. Acidentes acontecem o tempo todo” falou com ar de deboche.
“Você fala igual a minha mãe. Ela também não acha que eu deveria ter um carro.”
“Vocês dessa escola são muito precoces”
Ao chegarem à sala de aula, Sandara se depara com a seguinte cena: Minji completamente debruçada sobre os ombros de Seunghyun. Eles uniram duas cadeiras. Uma delas era a cadeira de Sandara. Definitivamente eles eram o único casal da escola que agia daquela maneira. Minji não possuía modos de menina, sempre com aqueles trajes provocantes, meias arrastão quando deveria usar as meias do uniforme. “Ela tinha que ser mais vulgar?” pensou raivosamente.
Ao ver que Jiyong e Sandara haviam chegado, Seunghyun tenta se ajeitar na cadeira. Minji permanece quase deitada sobre seu corpo. Sandara para do lado dela.
“Sinto muito, mas está sentada na minha cadeira” fala com um tom calmo. Minji fica espantada com aquela abordagem.
“Bom dia pra você também, Sandy. E não eu não sabia que essa cadeira tinha o seu nome” responde mascando chicletes. Óbvio que Sandara odiava quando ela a chamava de ‘Sandy’. Parecia tão vulgar.
“E você estuda nessa sala? Não. Portanto, com licença, essa é minha carteira.” Fala segurando a cadeira. Minji tenta matar a Sandara com o olhar. Seunghyun puxa Minji pra seu lado.
“Minji, deixa a Sandara em paz. Será que não tá hora de você ir pra sua turma?” ele fala preocupado que elas pudessem brigar. Minji sempre arrumava confusões com as garotas na escola.
“Tudo bem, queridinha. Fica sabendo que eu to de em olho em você, viu?” ela sai fitando Sandara com o olhar. Elas travaram uma batalha de ódio silencioso. Talvez na próxima vez uma briga fosse inevitável.
[..]
As aulas correram normalmente naquela manhã. Ao final da última aula antes do intervalo, Jiyong recebe uma ligação do pai e sai apressado. Ao final da aula de Literatura Estrangeira, Sandara percebe a preocupação de Seunghyun.
“Tudo bem? Você parece meio perdido” pergunta ao observar que ele estava segurando o livro e ao mesmo tempo franzindo a testa.
“Hãm? Sabe, eu tenho muita dificuldade nessa matéria. Preciso conseguir bons pontos até o final do semestre” confessou de um jeito encantador. Ele nem percebeu a reação de Sandara diante de suas palavras. “Como pode ser tão fofo?”, ela sussurrou mentalmente.
“Você tem dificuldades em Literatura Estrangeira? Pois eu adoro essa matéria. Posso te ajudar, se quiser..” ela nem pôde acreditar nas próprias palavras. “O que eu tenho na cabeça?”, pensou.
Seunghyun tirou os óculos e abriu o sorriso mais lindo do mundo. Sandara ficou completamente derretida com aquilo. Ele podia fazer isso sempre: tirar os óculos e deixar aqueles olhos negros percorrerem o ambiente. Ela sucumbiu diante daquele olhar.
“Você faria isso por mim? Nossa, eu estou realmente precisando de muita ajuda nessa matéria” aquele sorriso continuava iluminando todo o lugar.
“Sim, porque não? Eu posso te ajudar na matéria durante os intervalos das aulas” ela ficou feliz somente por ver a satisfação no olhar dele.
Os dois ficaram juntos durante o intervalo. O coração de Sandara batia cada vez mais forte a cada palavra dele.
“Você veio de qual escola?” perguntou Seunghyun
“Vim da escola estadual. Minha avó achou melhor eu mudar pra uma escola melhor”
“Você mora com a sua avó?”
“Sim”
“E seus pais?”
Sandara parou, abaixou a cabeça e respondeu timidamente.
“Meus pais morreram há 10 anos” ela falou com um brilho triste no olhar.
“Desculpa, não sabia..” Seunghyun falou também timidamente. Ele percebeu a tristeza de Sandara.
“Tudo bem. Você não culpa. Eu gosto de falar sobre eles..” ela derramou uma pequena lágrima de felicidade.
“Então, você mora com a sua avó? Você tem irmãos?”
“Não. Eu sou filha única. Eu cuido da minha avó. Ela tem uma grave doença nos pulmões”
“Você cuida sozinha da sua avó por todos esses anos?”
“Sim..Mas eu não importo. Eu a amo muito. Ela é tudo que eu tenho” aquelas doces palavras encheram o coração de Seunghyun de esperança.
“Você é uma pessoa incrível, Dara!” as palavras sinceras dele alegraram-na, que ficou vermelha quando ele a chamou de Dara.
“Você me chamou de Dara? Sabe que é assim que a minha avó May me chama?”
Seunghyun encontrou mais um ponto fraco de Sandara: ela adora ser chamada de Dara. Nunca se ‘Sandy’. Ela estava totalmente hipnotizada por aquele jeito inesperado do Seunghyun. Ele era tão distante e ao mesmo tempo próximo.
“Me diga uma coisa. Você e o Jiyong? O que tá acontecendo entre vocês dois?” a pergunta dele deixou Sandara completamente sem ação.
“Eu e o Jyong? Como assim?”
“Vocês estão sempre juntos. Parece um casal de verdade. E ele está gostando de você” realmente aquela pergunta assustou Sandara. Ela não esperava que ele se importasse com isso.
“Nós não somos namorados. Eu já falei” ela respondeu com toda a certeza do mundo.
“Não foi isso que ele me falou”
“Do quê exatamente ele falou?” ela perguntou com medo da resposta de Seunghyun.
“Ele não falou nada especificamente. Mas ele é melhor amigo e eu o conheço há bastante tempo pra saber que ele está apaixonado”
Sandara fica confusa. “Porque ele está me fazendo essas perguntas?” pensou.
“Ele é muito legal. É um ótimo amigo, mas eu não estou apaixonada por ele” ela respondeu tímida. Seunghyun fitava-a de uma forma que ela não conseguia controlar a própria respiração. Seu coração continuava fora do compasso. Batendo descontrolado.
“Vai ser difícil você tentar convencê-lo do contrário . Eu conheço o Jiyong. Ele irá mover céus e terras pra te conquistar” aquelas palavras travaram uma batalha mortal com os pensamentos de Sandara.
“Eu já disse: somos apenas amigos ”
“Amanhã. Podemos começar as aulas de Literatura amanhã” ela tenta levar a conversa pra outro rumo.
“Tudo bem. Então, amanhã começaremos” ela ficou tão satisfeita com compromisso das aulas que não podia esconder a felicidade.
Distraída, ela deixou cair uns papéis. Seunghyun não pôde deixar de ler o que estava escritos. Eram poemas.
“Você escreve poemas, Dara?”
“Sim. Na verdade são histórias em forma de poemas para peças de teatro”
“Você escreve peças de teatro? Que legal” ele fica encantado.
“São poemas românticos. Eu sempre gostei de escrever porque eu quero ser atriz de teatro”
“Então, você deveria conhecer o teatro da escola. Sabe de uma coisa, que tal se a gente for lá agora?” Seunghyun puxa Sandara pelos braços, que fica nervosa. Ele a leva até as portas do final do corredor.
“Veja, Dara! Aqui são apresentadas na maioria peças infantis, mas são legais. Tem cursos durante todo o ano. E os professores são muito bons. Você deveria se inscrever nas aulas”
“Infelizmente, não posso. Se eu me inscrever no curso de teatro não vou ter tempo de cuidar da minha avó” ela fica triste mais uma vez.
“Não é justo..Você não quer ser atriz? Então, essa é uma grande chance” Seunghyun tenta estimulá-la, mas ela permanece imóvel diante de sua decisão.
“Obrigada por se importar, Seunghyun. Mas não vai dar..” ela permanece com a cabeça baixa.
Os dois permanecem calados até o final da apresentação. Sandara não consegue segurar a timidez ao lado dele..Até que ela tenta quebrar mais uma barreira diante daqueles óculos escuros.
“E você, Seunghyun? Qual é o seu sonho?”
“O meu sonho? Não sei. Eu queria ser um grande empresário daqueles bem ricos. Ah, e ter uma marca alguma coisa com o meu nome. Conhecido mundialmente” ele falou com tanta seriedade que ela quase segurou o riso, mas foi impossível. A naturalidade de Seunghyun a deixava-a apaixonada.
“E porque você esconde tanto o seu rosto. Deveria mostrar mais. Seus olhos são tão bonitos” suas palavras ecoaram perigosamente no teatro vazio. Sandara não conseguia acreditar nas próprias palavras. “Meu Deus. O que estou falando?”, pensou. Mas já era tarde demais.
“Você acha mesmo?” ele perguntou inocentemente. Ela não soube o que responder por que estava tentando acalmar o próprio coração e a razão.
“Sim..Eu quis dizer que seus olhos não precisam ficar escondidos” e num impulso imediato das palavras de Seunghyun ela sucumbiu mais uma vez àquela voz. Ele tirou os óculos e desta vez não tinha escapatória. Ela não podia desviar daquele olhar.
“Assim está melhor?..” ele virou o rosto em direção a ela, que ficou envergonhada. Seus olhares ficaram cada vez mais em sintonia. Não demorou muito até que ela começou a ter pensamentos confusos. Seunghyun aproximou-se do seu rosto. E ela cada vez mais perdida naquela imensidão de olhar. Ela sentiu uma paz. Ele tocou levemente seu rosto com a mão, seu corpo inteiro arrepiou, o coração disparou. Quando seus lábios se tocaram foi como se o mundo parasse. Aquele beijo tímido foi tão inesperado que eles nem se deram conta que o sinal da aula tinha tocado.
Sandara deixou cair todos os papéis no chão. Seunghyun estava atrapalhado olhando pra ela.
“Não consigo encontrar a última pagina”
“Tudo bem, pode deixar. Eu procuro pra você ” ele teve que se arrastar no chão pra encontrar a folha.
Aquela cena constrangedora foi presenciada pelo coordenador: Seunghyun debaixo da pernas de Sandara, eles dois sozinhos no teatro.
“Posso saber o que está acontecendo aqui???” o coordenador gritou.
Seunghyun levantou assustado, e, de uma forma não muito normal, ele estava entre as pernas de Sandara com um papel na boca. Ela, naturalmente, ficou vermelha que nem uma pimenta.
“Encontrei! Está aqui o papel da aula de teatro!”