Capítulo 4 – “O primeiro encontro”
[*música para ouvir: Só Agora por Pitty]
Vovó May estava pronta para sair. Todo sábado ela fazia compras na feirinha do bairro, enquanto Sandara ficava a manhã inteira cuidando da hortinha no quintal. Às vezes Sandara acompanhava a avó na feira, mas ela estava triste demais para fazer qualquer outra coisa que não fosse cuidar da sua pequena horta.
Vovó May percebeu a distancia da neta e preferiu não interferir naquele momento. Talvez ela tenha brigado com o namoradinho da escola, pensou ingenuamente. Ou talvez fosse necessário que ela ficasse sozinha.
“Vovó, tome muito cuidado com o sol”
“Não se preocupe, Dara. Usarei meu chapéu. Não vou demorar”
Na verdade vovó May tinha planos para o almoço. Irei comprar as frutas preferidas da Dara. Ela vai adorar. Espero que isso a deixe feliz”. Sandara permaneceu quieta sentada no meio da horta. Silenciosa com seus pensamentos. Não parava de pensar na expressão destruidora do Seunghyun no dia anterior. Ela ficou tão pensativa que não ouviu a campainha tocar. Era Seunghyun.
Sim, ele estava lá parado com sua moto. Ele bateu mais uma vez na porta e percebeu que não estava trancada e entrou sorrateiramente na casa. Observou os enfeites e os porta-retratos da sala. Uma mistura de coisas antigas e infantis. Não teve problemas para adentrar até a cozinha. A casa estava tão silenciosa que realmente parecia que não havia ninguém.
Foi quando os seus olhos avistaram uma suculenta torta de chocolate em cima da mesa. Não teve jeito, ele tentou resistir, mas era mais forte do que ele. "Será que alguém vai perceber se eu pegar um pedacinho?" Olhou para os lados e tirou um pedaço gigante. Estava tão deliciosa que ele não se conteve e tirou mais dois. "Agora realmente acho que vão notar!", ele pensou.
E ele levou o maior susto da vida quando Sandara entrou pela porta da cozinha. Ela não estava acreditando no que seus olhos estavam presenciando. Não fosse tanto pelo atrevimento dele de entrar na casa sem ser convidado, mas pelo fato de ter devorado três pedaços da torta que estava em cima da mesa.
“O que você está fazendo aqui?”
“A porta estava aberta e eu entrei. Toquei a campainha. Você não ouviu?”, Sandara olhou para expressão inocente de Seunghyun e teve duvidas se o expulsaria de sua casa ou se jogaria o resto da torta na cara dele.
“Não ouvi porque estava ocupada. E você comeu metade da torta?”
“Errr, eu estava com fome. E essa torta tá muito boa”, ele respondeu com aqueles olhos encantadores de antes. Toda a raiva de Sandara desapareceu.
“Você normalmente entra nas casas das pessoas e sai comendo tudo que vê pela frente?”
“A sua casa me convidou pra entrar. E a torta de chocolate foi mais um atrativo. Eu adoro chocolate”, ele disse aquelas palavras e o coração de Sandara disparou mais uma vez.
“’A casa te convidou a entrar’? Você anda assistindo muito João e Maria”
“Desculpa por isso”
“Tudo bem. E não fique com vergonha de comer mais pedaço da torta”, ela sorriu diante da revelação dele. Na verdade Seunghyun estava envergonhado e isso o deixava inofensivo. Totalmente diferente daquele garoto agressivo da manhã anterior na escola.
“Na verdade, Dara, eu vim aqui porque eu queria conversar com você sobre ontem”, ele percorreu o olhar por cima dos ombros dela, que o admirou docemente. Aqueles olhos eram como uma atração irresistível para ela. Tentar lutar contra os olhos de Seunghyun era como travar uma batalha sem fim entre o coração e a razão.
“Sobre ontem? Nada aconteceu ontem”, ela permaneceu fria diante do esforço dele.
“Aconteceu sim. Eu fui grosso com você. É que eu estava num dia péssimo e você não tinha culpa de nada. Você me perdoa?”, novamente aquele olhar percorreu a imaginação de Sandara, que não sabia mais até que ponto iria resistir.
“Não se preocupe com isso. Eu sei...Eu entendo.. Você não é obrigado a estar de bom humor todos os dias, né?”, aquela pergunta foi como um banho de água fria em cima dele. Ele teve vergonha de admitir que tinha sérios problemas de humor e que costumava descontar em qualquer um de estivesse em sua frente. Ainda mais quando o problema se resumia em Minji.
“Desculpa, Dara. Eu sei que tínhamos a nossa primeira aula de Literatura ontem e eu estraguei tudo”
“Sim, mas não tem problema. Podemos começar na semana que vem”
“Tem outra coisa que eu queria conversar com você. É sobre a Minji”, Sandara teve medo das palavras dele. Porque ele estaria conversando justamente sobre a Minji?
“Ela é muito problemática e pensa que pode controlar qualquer pessoa que se aproxime de mim. Então, tome cuidado com ela”
“Porque ela teria alguma coisa contra mim?”
“Ela tem ciúmes de você”, os olhos de Sandara arregalaram assustadoramente. Será que os meus sentimentos por ele são tão evidentes assim?, ela pensou. Ele fitou-a com um olhar inocente, como se esperasse algum tipo de revelação dela, mas ela permaneceu tímida diante da imensidão daquele olhar.
“Realmente a Minji é uma garota problemática. Porque eu seria uma ameaça para ela?”, ela não percebeu, mas aquelas palavras soaram como uma redenção dos seus próprios sentimentos. Meu Deus! O que estou fazendo?¸ a mente de Sandara entrou em pânico. Novamente ela estava prestes a sucumbir diante daqueles olhos perturbadores.
Eles estavam ali sozinhos e desta vez nenhum coordenador apareceria do nada pra atrapalhar. Os dois continuaram se olhando por mais alguns segundos até que vovó May interrompeu o silêncio, que, por pouco, quase seria preenchido por um beijo de chocolate.
Vovó May naturalmente ficou espantada ao ver a cena. Ela abriu o maior sorriso do mundo para quebrar a vergonha de Seunghyun, que estava completamente vermelho.
“Dara. Minha filha. Não sabia que íamos receber visita”, ela fez aquele típico gesto engraçado com o corpo enquanto guardava as compras no armário. Sandara sentiu-se a pessoa mais tímida do planeta porque ela sabia que vovó May, esperta do jeito que era, já tinha percebido tudo.
“Não vai me apresentar esse rapaz bonito?”, ele sorriu tímido. Sim, Seunghyun ficava envergonhado quando qualquer mulher falava que ele era bonito.
“Vovó, esse é o Seunghyun. Um amigo da escola”
“A Dara fala muito da senhora. Finalmente a conheci”
“Você é mestiço? Que olhos lindos você tem”, ela não se conteve diante daquele olhar. Seunghyun sorriu enquanto vovó May apertava seus olhos contra os óculos gigantes para poder enxergá-lo melhor.
“Vovó?.. Isso é pergunta que se faça?” “Todo mundo me pergunta isso. Mas, não. Não sou mestiço. E obrigada pelo elogio”, Seunghyun abaixou a cabeça para evitar que ela continuasse olhando fixamente para seus olhos, mas era impossível.
“Além de bonito é gentil. Porque você não fica para almoçar conosco?”, ele disse ‘sim’ com um baita sorriso. Sandara teve que discordar do “gentil’. Se bem que, quando ele não estava possuído pela raiva e a arrogância ele era a pessoa mais gentil do mundo.
“Aceito sim”
“Ainda cabe comida nessa barriga? Você comeu metade da torta”, Sandara perguntou baixinho pra ele.
Vovó May ficou feliz ao perceber que a tristeza de Sandara tinha ido embora. Ela sabia que algo de diferente estava acontecendo com a neta, algo de muito especial. E que aquele rapaz de gestos fortes e olhar marcante significava muito mais do que uma simples amizade de escola. Ela ficou observando carinhosamente todos os gestos dos dois sentados à mesa conversando.
“Quer dizer que vocês vão estudar Literatura juntos? Porque não estudam aqui? Assim eu poderei cozinhar todos os dias pro Seunghyun”, vovó May e suas ideias de gênio.
“Não quero incomodar a senhora. Podemos estudar na biblioteca da escola”
“Vocês não vão me incomodar! Não se preocupe”
“Vovó, a senhora não pode fazer esforço”
“Querida, não se preocupe com isso. Estou ótima. Além disso, eu adoro ficar perto de pessoas jovens”
“A senhora poderia fazer uma torta de chocolate toda semana”, Seunghyun não perdeu tempo. Sandara ficou espantada com o atrevimento dele.
“Ah, mas é claro, meu filho. Eu posso fazer a comida que você gosta quando vier”, vovó May não mediu esforços para agradar Seunghyun, que logo gostou do jeito engraçado dela.
Depois do almoço Sandara levou Seunghyun até o portão.
“Você tem moto?”, ele perguntou com entusiasmo.
“Eu não gosto muito de carros. Eles ocupam muito espaço nas ruas”
“Nossa, que legal. Eu nunca andei de moto”
“Não?”
“Na verdade eu tenho um pouco de medo porque uma vez eu vi um acidente”
“Pois eu sou um ótimo motorista e nunca sofri nenhum acidente. Porque você não vem comigo para um passeio?” diferente do Jiyong que era um perigoso motorista, Senghyun era realmente bastante cuidado com sua moto.
“Ah, não sei..”, ela tentou dizer não àquela aventura, mas, novamente o coração falava mais alto que a razão. Sem contar que vovó May incentivou o passeio com todo o fervor.
“Tudo bem. Vamos”, ela subiu e abraçou-o delicadamente entre a cintura. Sentiu-se envergonhada, mas o que mais poderia ser mais perfeito do que passar a tarde com o Seunghyun?
No começo, ela estava tensa, com medo de que pudesse cair, mas Seunghyun demonstrava confiança. Com o passar do tempo ela foi perdendo o medo e pôde abrir os olhos normalmente e percebeu o vento no rosto. Foi aí que ela apertou-o mais forte, como se estivesse abraçando a coisa mais preciosa do mundo.
E num impulso adolescente ela deixou o coração guiá-la para que pudesse sentir o corpo de Seunghyun ao tocá-lo suavemente sobre o peito. Ela encostou a cabeça nas suas costas apenas sentindo que ele estava ali tão perto do seu coração e aquele momento não poderia acabar nunca mais. Ele percebeu a redenção de Sandara e sentiu-se ao mesmo tempo o protegido e o protetor.
“Nós temos um encontro..”, ela murmurou apaixonada próximo ao ouvido dele. Sandara parecia estar embriagada de amor e ao mesmo estava sendo levada pelo vento agarrada apenas pelo corpo de Seunghyun.
Não se sabia quanto tempo eles percorreram a cidade, mas foi tempo suficiente para que ele e Sandara tivessem uma conexão de corações. A tarde estava caindo, linda e vermelha no horizonte. Eles pararam próximos a um carrinho de sorvete num parque da cidade. Lá era muito bonito. Ficaram conversando por bastante tempo até as primeiras estrelas surgirem no céu.
“Você está apaixonado pela Minji?”, ela perguntou sem medo de ouvir a resposta. Seugnhyun atrapalhou-se com os pensamentos. Não que ele tivesse duvida sobre os sentimentos em relação à Minji.
“Não. Ela quem é apaixonada por mim”, ele respondeu com segurança.
“E o que você vai fazer a respeito disso?”
“Não sei. Porque pergunta isso?”
“Porque você disse que ela tenta controlar as garotas que se aproximam de você. E se tivesse outra garota apaixonada por você? O que você faria em relação à Minji”, Sandara fez a pergunta certa. Apesar de bastante tímida ela usava a inteligência para conquistar a admiração de Seunghyun.
“Bem, eu tentaria controlá-la para que ela não atrapalhasse”, ele respondeu com o olhar. Sandara sentiu o seu coração bater tão forte que não dava para controlar.
Ele prendeu-a em seu olhar. Ela, que, a essa altura, já havia sucumbido por completo, não pensava em mais nada naquele momento. Somente nos lábios pequenos de Seunghyun tocando apaixonadamente os seus. Se existisse um momento perfeito para definir a paixão, aquele, com certeza, seria um desses momentos. A redenção de Sandara aos beijos de Seunghyun declarava explicitamente que ela estava perdidamente apaixonada por ele. Os gestos suaves dele ao tocar em seus cabelos macios ela a deixou completamente arrepiada. Ela o abraçava fortemente como se tivesse certeza que o corpo dele representasse toda a força do mundo necessária para o amor. Ele sentiu o próprio coração acalentar o inocente coração de Sandara. Seunghyun quis cuidar dela como se fosse um tesouro precioso e ao mesmo tempo ele deixou que os seus melhores sentimentos derramassem sobre o corpo dela. Enquanto seus lábios a beijavam calorosamente os olhos cerrados puderam revelar o inicio de uma grande paixão.
“Ah, Dara. Você é doce feito um poema”, Seunghyun permaneceu inebriado com o sabor de Sandara.
“E você, Seunghyun, é um poema perfeito de chocolate”
Seria possível que duas pessoas pudessem se apaixonar ao mesmo tempo uma pela outra? Ou isso era apenas uma historia de contos infantis?