Sandara revirou a casa inteira a procura daquele maldito papel. Procurou em todos os lugares e nada!

“Minji só pode algum pacto com o Diabo porque eu não encontro de jeito nenhum a droga daquele papel. E agora? O Seunghyun está perdido e eu não posso fazer nada pra ajudá-lo..”, ela apertou a cabeça.

Vovó May percebeu a aflição da neta e ficou curiosa.

“O que você tem, Dara? Parece preocupada”, ela perguntou.

“Estou preocupada sim.. Não consigo encontrar uma coisa que deixei aqui em cima da mesa..”

“Já procurou direito?”

“Sim! Mais de mil vezes. Eu deixei aqui, bem em cima dessa mesa quando fui atender a porta. Fiquei alguns instantes com o Jiyong e quando voltei não estava mais lá”

“A única coisa que sei foi que ontem quando cheguei encontrei a cozinha toda bagunçada e limpei tudo. Lembro que joguei algumas coisas no lixo. Você estava lá em cima com o Jiyong, não quis chamar você...” vovó May falou.

Sandara arregalou os olhos.

“A senhora fez o quê?? Jogou no lixo o papel que estava na mesa?”, ela perguntou.

“Sim! Por acaso é isso que está procurando?”, ela perguntou de um jeito inocente.

Sandara correu até o cesto que ficava debaixo da pia. Vovó May fez uma cara engraçada ao ver a neta revirando o lixo.        

“Você não vai encontrar nada aí, Dara. Esqueceu que o caminhão de coleta passou ontem?”

Sandara suspirou.

“Não acredito nisso...Aquela garota tem realmente um pacto com o demônio..”

“O que você disse?”

“Ah, nada, vó..”, Sandara falou.

Sandara ficou sentada no chão com um ar de decepção.

“Aquele papel que a senhora jogou fora era muito importante pra uma pessoa...”

“Você quer dizer, o Seunghyun, né?”

Sandara ficou espantada com a agilidade da avó.

“Como a senhora sabe?”

“O que eu não sei sobre você, Dara?”, ela apertou as bochechas da neta.

“Err, vó. Tem uma coisa que a senhora precisa saber sobre mim e o Seunghyun...”

“Que vocês dois estão....como é que se diz.... Ficando?”

Sandara ficou ainda mais chocada. É claro que ela sabia que a avó era esperta, mas não tanto assim.

“Porque a senhora nunca me disse que sabia? Ou porque nunca contou para o...”

“Porque nunca contei pro mauricinho do Jiyong? Ah, porque eu não vou com a cara dele. Prefiro o Seunghyun”

Sandara continuava olhando a expressão tranquila da avó, que puxou uma cadeira e sentou do lado dela.

“Eu não sei como isso foi acontecer, vó...”

“Pois eu sei. Isso é paixão, filha! paixão adolescente. Não dá pra evitar”

“Eu não sei o que fazer! Gosto do Jiyong, ele é legal, um ótimo namorado. Mas...”

“Mas não consegue evitar aqueles olhos do Seunghyun vampiro...”

“Vampiro? Hahahahaahahaha... Só a senhora pra me fazer rir num momento desses!”

Vovó suspirou profundo. As duas ficaram alguns segundos em silencio. Meio que se analisando.

“Sabe, eu acho que você está apaixonada por ele?”

Sandara sentiu o corpo inteiro tremer com aquelas palavras da avó. Como ela podia conhecê-la tão bem assim? Ou estava tão na cara?

“Estou...”, os olhos negros de Sandara ficaram radiantes.

“Por isso eu gosto tanto dele...”

“Mas eu não acho que ele gosta de mim...”

“Deixe de ser boba! Ele gosta de você do jeito dele. Pensa bem, se ele fosse igual aos outros ou até mesmo igual ao Jiyong talvez não tivesse se apaixonado por ele”

“A senhora tem toda a razão! Como sempre..”

Sandara engatinhou para ficar mais perto da avó.

“Seus olhos ficam brilhando quando fala dele..”, falou vovó May.

Sandara encolheu o corpo dando uma perfeita resposta ‘Sim’.

“Ah, vó.. Eu não sei o que fazer... Eu gosto do Jiyong, mas não dá pra namorar um cara só porque ele é legal. Mas o Seunghyun... Ele...”

“Me diga uma coisa, Dara? Você ainda é virgem?”

Sandara ficou tão chocada com a pergunta que seu coração quase parou. O que tinha a ver aquele pergunta? Tão desnecessária. Tão constrangedora. 

“Vó? E-eu?... Claro que eu sou virgem..”, ela ficou vermelha.

“Como assim, ‘claro’? Olha, só estou perguntando por que outro dia eu deixei vocês dois sozinhos e eu pensei que tivesse acontecido alguma coisa. Achei vocês dois meio sem jeito quando cheguei...Fiquei esperando você me dizer alguma coisa depois, e nada...”

“Vó? Eu não acredito que a senhora fez isso? Inventou aquela saída só pra me deixar sozinha com ele?”

Sandara não estava acreditando naquilo. Vovó May era mesmo uma avó diferente de todas as outras.

“Dara, minha filha. Você sabe que eu nunca fui uma coreana tradicional. E muito menos uma avó coreana tradicional. Sempre quis que você namorasse mais e estudasse menos. Acho que você sempre se preocupou demais comigo e esqueceu de viver a adolescência. Mas agora, que eu sei que você está apaixonada por esse rapaz, fico mais tranquila...”

“Tranquila? Com o quê?”

Vovó May olhou bem fundo nos olhos da neta e segurou as mãos pequenas dela.

“Tranquila de saber que você está encontrando o caminho da felicidade..”

Os olhos de Sandara brilharam. Vovó May se levantou da cadeira, com uma certa dificuldade.

Sandara ficou observando o andar da avó. Ela pegou a chaleira, encheu com água e colocou no fogo.

“Sabe...naquele dia, ia acontecendo...”, Sandara falou. Vovó May virou o corpo rapidamente. Os olhos dela ficaram arregalados.

“Eu sabia! Meu plano deu certo..  E o que aconteceu exatamente?“

“Err...Não muita coisa... quer dizer, quase. Se não fosse a gente ter se assustado com o barulho da janela..”

“Ah sim. Realmente aquilo foi muito estranho. Nunca vi nenhum ladrão por aqui..”

“Pois é.... Se não fosse isso...”, Sandara falou cobrindo o rosto com a mão.

“Não se preocupe, Dara. Da próxima vez eu ficarei fora a tarde inteira fora”, vovó May falou dando uma piscadinha engraçada.   

“Vó??”, Sandara ficou vermelha.

Sandara ajudou a avó a preparar a mesa para o chá. As duas tinham uma sintonia perfeita dentro de casa. Cada uma sabia o que a outra ia fazer só de se olharem.

“Mas Dara, minha filha.. Me diga. O que exatamente tinha naquele papel que era tão importante?”

Sandara suspirou profundo.

“Uma prova importante para ajudar o Seunghyun a sair de uma enrascada. Tinha informações sobre uma garota da escola chamada Minji. Ela está grávida dele. É uma longa história”

“Ah... Então é sério mesmo. Mas essa garota Minji sabe de vocês dois?”

“Não. Nem pode desconfiar. Ela é um tipo de garota bem ciumenta..”

“Você tem que tomar cuidado... Vocês dois”

“Eu sei. Por isso esse papel era tão importante. Eu ia mostrar pra ele, mas deu tudo errado..”

A chaleira chiou. Vovó May esperou todo o vapor sair.

“Sabe o que eu acho?”, vovó May falou

“O quê?”

“Que vocês devem contar a verdade pro Jiyong. Tudo bem, eu não vou com a cara dele, mas não acho que seja certo vocês ficarem se encontrando debaixo das barbas dele, bom, se ele tivesse barba. Acho que vocês devem contar a verdade antes que ele acabe descobrindo sozinho. Aí seria bem pior. Eles não são amigos de infância? Não vai querer que eles briguem, né? Seria bem tenso..”, ela falou derramando a água fervendo dentro da xícaras.

“Não tenho coragem. Esse é o problema. Tenho medo que ele fique muito magoado comigo..”

“A mágoa é muito maior quando não se conta a verdade..”

Sandara abaixou a cabeça. Ela teve medo só de pensar na reação de Jiyong. Seria catastrófico.

“A senhora tem toda razão...”

A conversa continuou. Depois do almoço, Sandara subiu para o quarto. Ela quis ligar para o Seunghyun, mas se conteve. “Não! Melhor dá um tempo pra ele.. Mas o que será que aconteceu no encontro na casa dele?”.

Ela não sabia, mas o pior tinha acontecido. Seunghyun disse sim  às loucuras da Minji.

[...]

Enquanto isso, na casa de Seunghyun, o clima continuava tenso. Parecia que um furacão tinha passado por lá.

Lila observava a expressão preocupada do filho. Ela tocou levemente as mãos dele.

“Porque não me contou antes, meu filho?”

“Eu tive vergonha..”, ele fitou os ombros da mãe.

“Vergonha de mim? Eu sou sua mãe, lembra? A sua melhor amiga”, ela levantou o queixo dele.

Ryun, que caminhava de um lado pro outro, tentava entender o que tinha acontecido. Ele estava preocupado com aquela decisão do Seunghyun.

“Você foi praticamente forçado a dizer que ‘sim’, Seunghyun. Aquele pai dela é um ditador!”, ele falou.

“Ele me odeia!’, Seunghyun falou.

“Quem pode odiar você, meu filho? Aquele homem é um louco. Quase bateu em você. Se não fosse o Ryun..”

Seunghyun suspirou. Os olhos dele estavam pesados. A enxaqueca estava lá, mais forte do que a de antes.

“Eu vou pro meu quarto..”, ele falou.

Lila fitou os olhos do filho. Ela tinha aqueles belos olhos amendoados, iguais aos do filho. O jeito carinhoso com que segurava as mãos do dele. Seunghyun não resistia àquele olhar amável da mãe, sempre tão cheio de ternura e compaixão. Olhar de mãe.

Ele caminhou até o quarto, com seus passos pesados.

E, num impulso de criança, Seunghyun deu meia-volta e voltou para dar um abraço emocionado na mãe. Os olhos dela se encheram de lágrimas.

“Desculpa, mãe..”, ele falou com a voz trêmula.

“Ahh, Seunghyun, meu filho.. Não fique assim. Um neto vai trazer tanta felicidade a essa casa..”, ela acariciou os cabelos dele.

“Desculpa por a Minji não ser a nora dos seus sonhos...”, ele falou tímido.

Ela sorriu.

“O que importa? Você é o genro dos sonhos..”, falou a mãe coruja.

Seunghyun foi para o quarto. “Pronto! 1 tonelada de peso foi tirada das minhas costas..”, ele pensou. Só que não. O celular dele toca. Era Minji.

Ele não quis atender.

Teve vontade de jogar o aparelho na parede.

Não atendeu.

Ela ligou novamente.

Aquele toque musical já tava irritando.

Não atendeu novamente.

Ela insistiu e ligou outra vez.

Parecia que o celular estava vibrando dentro da cabeça dele.

Se ele não atendesse ela ficariam naquela palhaçada o dia inteiro.

“ALÔ MINJI?”,

“Oi, meu noivo....”

Aquelas palavras ecoaram dentro da cabeça latejante de Seunghyun.

“O que você quer?”

“Ah, só queria dizer que eu te amo!”

Seunghyun engoliu seco. Como a palavra amor podia soar tão falso da boca de uma pessoa?

“Como é que você tem coragem de dizer isso depois de tudo que me fez?”

“Tudo que eu fiz foi por amor..Além disso, não fiz nada sozinha, honey..”

“Para de me chamar assim! Que droga!”

“É só uma forma de carinho...Eu te amo, Seunghyun!”

“PARA DE FALAR QUE ME AMA, INFERNO! VOCÊ NÃO AMA NINGUÉM! NEM SABE O QUE É AMOR!!”

Ele ficou vermelho de tanto ódio.

Minji ficou calada do outro lado da linha.

De repente ele ouviu um soluço.

“Alô? Alô? Minji?”

Novamente o soluço do outro lado.

Sussurros profundos.

Seunghyun apertou a testa e respirou profundo.

“Minji? Você está chorando?..”

“N-não....”

Seunghyun afastou o celular da boca por alguns segundos. Talvez para recuperar o fôlego e ganhar paciência. Minji o irritava com facilidade, mas a garota estava grávida. E as grávidas têm esses sentimentos. Talvez fosse melhor maneirar nas brigas com ela.

“Minji.. Desculpa. Eu não deveria ter falado assim com você. Me desculpa”

“Porque você fala assim comigo? Só porque eu disse que te amo? Por acaso está dizendo que eu não te amo?”

Ele afastou o aparelho novamente da boca.

“Não foi bem isso. É que eu tô com uma enxaqueca filha-da..... Desculpa..”

“Tudo bem. Eu te perdoo, honey..Posso te chamar de honey ou você vai brigar comigo de novo?”

“Não, Minji. Pode me chamar do jeito que quiser..”

Mais uma pausa do outro lado da linha. Minji respirou profundo.

“Só liguei pra dizer isso... E que meu pai pediu pra te falar que o nosso noivado vai ser em segredo. Ele não quer que ninguém saiba, principalmente na escola. Aquelas coisas todas porque eu tô grávida..”

“Melhor assim.. Agora, me deixa dormir tá? Eu tô muito cansado”

“Tudo bem, meu bem. Pode dormir. Boa noite se sonhe comigo.”

Seunghyun desligou o telefone na esperança que fosse passar toda aquela angústia, mas ele estava enganado. O tal choro da Minji só ajudou a pior o estado de nervos dele. “Até quando vai durar esse inferno? Até depois que o bebê nascer?”, ele pensou.

Não muito longe dali, no conforto da cama dela, estava Minji, de pijamas. Ela estava fazendo aquele sorrisinho típico.

“Eu não disse, Seunghoney? Você vai me pagar todos os desaforos que já me fez na vida. O seu inferno está apenas começando, meu amor!”, ela falou jogando o celular em cima da mesa do computador.

Realmente o inferno de Seunghyun estava apenas começando.

[...]

De volta à escola. Graças a Deus era sexta-feira, para alívio de Seunghyun.

As datas das provas estavam marcadas no calendário fixado no mural do corredor. Seunghyun estava ferrado! Ele tinha notas muito baixas em pelo menos 4 matérias.

“Só um milagre pode me salvar...”, ele falou sozinho.

Ele não percebeu, mas alguém se aproximou dele.

“Hi, sweetheart! Tudo bem com você?”, falou Mary Anne, a nova professora de inglês.

“Err, oi, professora. Tudo bem..”

“Que bom! Como vão os estudos de inglês? As provas já foram marcadas..”, ela falou ajeitando os livros nos braços.

“Ah, vão bem. Eu não tenho problema nessa matéria..”

“Ah sim, claro! Você é o melhor da turma, não é?”

“Nem tanto..”, ele ficou tímido.

Espera um pouco. Seunghyun ficando tímido perto de uma mulher?

A professora fitou os olhos dele através das lentes escuras. Como ela conseguiu? Aquilo o incomodou.

E num gesto totalmente inesperado, ela tirou os óculos dele.

“Ah, agora sim estou vendo os seus olhos! Que lindos! Porque você os esconde?”, ela falou.

Seunghyun ficou chocado com aquilo. Como ela podia ser tão audaciosa? E aquela famosa frase de que ‘Seunghyun não gosta de ser encarado nos olhos, principalmente pelos professores’?

Ela agiu naturalmente e nem percebeu a frieza no olhar de Seunghyun.

“Devolva os meus óculos, por favor?”, ele falou calmamente. Ela permaneceu com aquele olhar inocente.

“Ah, desculpa. Só queria ver os seus olhos. Agora já sei que você é quase completamente lindo. Bye bye sweetheart”, ela disse e seguiu para a sala dos professores.

Ele ficou paralisado. “O que ela quis dizer com ‘quase completamente’ lindo?”, ele pensou.

Ela deixou aquele perfume francês adocicado no ar.

Seunghyun balançou a cabeça e foi para o refeitório.

Aquele era um raro momento de paz na semana turbulenta de Seunghyun. Sentar sozinho no refeitório. Comer o lanche sem ninguém por perto e escutar música alta no Iphone.

Novamente ele quis estar em outro lugar que não fosse aquele. Bastou fechar os olhos e pronto!

O telefone dele toca, interrompendo a música. Era uma alerta de mensagem de texto:

“Me encontre na sala desativada daqui há 6 minutos. Precisamos conversar”

Ele suspirou. Sabia quem era.

Seunghyun terminou o lanche bem rápido e saiu.

Rezou para não encontrar Minzy ou Jiyong no meio do caminho. Deu certo. De fato, Minji não o procurou desde a noite anterior. E Jiyong deveria estar em alguma reunião com o pai, porque ele não apareceu na escola.

Ele entrou na velha sala desativada.

“Porque demorou tanto? Falei 6 minutos”

“Foi só um minuto a mais”, ele falou franzindo a testa.

Sandara fitou os olhos dele de um jeito diferente. Ela se aproximou lentamente e lhe deu um beijo. Seunghyun sentiu o coração dela batendo acelerado.

“Desculpa, Seunghyun.. Eu não sabia”, ela falou o abraçando carinhosamente.

“Desculpa porque? Eu que fui grosso com você da última vez”, ele apertou o pequeno corpo dela contra o seu.

“Eu não sabia o porquê da sua raiva. Jiyong me contou..”

Seunghyun afastou-se. Se sentiu incomodado.

“Esteve com o Jiyong ontem?”

“Sim! Ele me deixou em casa, como todos os dias..”

“E ele esteve no seu quarto de novo?”, ele perguntou.

Sandara percebeu o jeito estranho dele.

“Ah não! Claro que não.. Porque isso agora, Seunghyun?”

“Nada”

Sandara já tinha aprendido que quando Seunghyun dizia a palavra ‘nada’  logo depois de franzir a testa de um jeito fofo era porque ele estava zangado com alguma coisa.  

“Eu já disse. Aquilo foi um mal entendido. O Jiyong e eu...”

“Tá. Eu não quero ficar zangado de novo. Vamos falar sobre outro assunto.”, ele interrompeu. Sandara suspirou.

Ela sentou do lado dele e tomou coragem para perguntar.

“Diga-me...O que aconteceu ontem?”

Seunghyun respirou profundo.

“Eu vou me casar com a Minji”

Sandara ficou pálida.

“QUÊ? Como assim casar? Quem teve essa ideia maluca?”

“Eu”, ele respondeu. Ela ficou ainda mais chocada.

“Você? Mais porque Seunghyun? Porque tomou essa decisão tão precipitada?”

“Porque eu não tive escolha! Era isso ou dar o maior desgosto da vida para minha mãe. Além disso, o pai da Minji ia me matar..”

“Eu não acredito no que estou escutando!”, ela falou.

Seunghyun olhou pra ela espantado.

“Não acredita? Mas foi exatamente isso que aconteceu..”

Ela balançou a cabeça em sinal de negação.

“Não posso acreditar que você fez isso. Não parece nem um pouco o Seunghyun que eu conheço..”

“Do que está falando, Dara?”

“Você não é o destemido Seunghyun? Aquele que todo mundo tem medo na escola? Porque não se defendeu de tudo aquilo? Porque não encarou tudo do mesmo jeito que você costuma encarar as pessoas aqui na escola?”, ela falou.

“Eu tive medo! Não sou esse cara rebelde o tempo todo que você pensa”, ele abaixou a cabeça.

“E porque? Pois eu acho que você deveria ser assim sempre? Com tudo e com todos”

“E assustar ainda mais as pessoas? Não.”

“O que estou querendo dizer é que a Minji pode ter armado tudo isso. Ela conhece seus pontos fracos. Aposto que ela deve ter feito uma cara de santa o tempo inteiro durante a reunião lá na sua casa.”

“Isso foi verdade. Aquela v----. Aquela p----..... Aquela desgraçada ficava me olhando com aquele sorrisinho cínico o tempo todo. Não pude fazer nada ou o pai dela me degolava vivo”

Sandara segurou firme nas mãos de Seunghyun. Ele olhou bem dentro dos olhos dela. Os dois tinham essa afinidade no olhar.

“Eu prometo que vou encontrar uma forma de ajudar você”, ela sorriu.

“O que mais pode ser feito? Acho que mais nada”, ele abaixou a cabeça novamente.

“Está enganado! Eu tenho certeza que a Minji ainda guarda um segredo. E eu vou descobrir..”, ela apertou a mão dele.

Seunghyun encolheu o corpo e levou a mão de Sandara até o ombro dele, de maneira que eles se abraçaram novamente. Ela fitou o pescoço dele. E sentiu o cheiro do cabelo dele. Era tão bom.

“Eu não quero mais falar sobre isso agora.. Porque a gente não continua o que começou naquele dia lá na sua casa?”

Sandara ficou vermelha. Não dava pra resistir àquilo. Seunghyun com aqueles dois olhos perseguidores e aquela boca pequena.

“Hãm? Aqui?”, ela perguntou. “Como assim ‘aqui’? O que eu tenho na cabeça?”, ela pensou.

“É. Aqui!”, ele falou com uma voz rouca.

“Mais aqui é tão sujo..”, ela falou.

“Não tem problema. Eu tiro a minha jaqueta e você deita nela”

Ela ficou mais vermelha que antes. “’Eu tiro a minha jaqueta e você deita nela’. Tá ficando pior. Meu Deus, o que eu faço?”, ela pensou.

“M-mas e-eu não me sinto bem aqui. Prefiro o meu quarto”, ela falou tentando evitar aqueles olhares do Seunghyun. Ele sorriu.

“’Prefiro o meu quarto’? meu Deus. O que estou dizendo?”, ela teve pensamentos com ela e o Seunghyun no quarto, realmente.

“A minha jaqueta é quase uma cama. Você nem vai perceber”, ele a segurou firme nos braços.

Pausa para o desespero de Sandara.

“O que é aquilo?”, ela gritou.

“Aquilo o quê?”

“Ali, no canto. Você não viu? Acho que é um morcego ou um rato, não sei”, ela falou.

“Morcego ou rato?”

“Não sei. Mas era grande..”, ela disfarçou.

Tá certo, o plano do morcego ou rato foi ridículo, mas sempre funciona com os homens.

“Tá certo. Você tem razão. Aqui é nojento mesmo. Não quero que esses invasores te vejam..”, ele falou apertando o corpo dela.

Ela respirou aliviada. Por um lado foi bom porque não seria nada romântico perder a virgindade numa sala suja. Por outro lado, ela só estava adiando aquele momento. O lance da virgindade outra vez.

 O jeito era ficar só nos beijos com ele. E que beijos. Aqueles beijos de chocolates. Porque ele tinha aquele gosto? Já estava na essência dele.

“Se os beijos dele são assim, imagina o resto?” , ela pensou.

O celular de Seunghyun vibrou, assustando os dois.

“Ah eu não acredito!”

“Quem é, Seunghyun?”

“É a Minji”

Sandara encolheu o corpo.

“Não vai atender?”

“Não”

Ele voltou a beijá-la.

O celular tocou novamente.

“Porque você não atende de uma vez. Ela não vai desistir”

“Tá certo. Mas só porque você tá dizendo”

Ele respirou profundo.

“Alô? O que é Minji?”

Ele ouviu o outro lado da linha.

Sandara ficou quieta. Quase parou de respirar.

Ele desligou o telefone.

“O que houve?”, ela perguntou.

“A Minji. Ela está na enfermaria. Disse que está passando mal. Quer que eu vá até lá”

“Então vá!”

Seunghyun suspirou e beijou-a carinhosamente.

“Desculpa.. Mas eu tenho que ir”

“Tudo bem. Não se preocupe comigo”

Ele saiu correndo. E antes de atravessar a porta disse uma coisa que deixou Sandara nervosa.

“Ei, Dara! Não se preocupe. A gente termina isso lá na sua casa..”,

Ele saiu.

Sandara ficou lá parada pensando na próxima vez.

[...]

Seunghyun chegou correndo na enfermaria.

Minji estava deitada numa cama.

“Porque demorou tanto? Onde estava?”, ela perguntou puxando ele pela jaqueta.

“Estava no refeitório”

“Mentira! Eu procurei você lá e não te vi. Onde estava?”

Ele respirou profundo.

“Eu já disse. Estava no refeitório. Só que saí pra atender uma ligação porque estava muito barulhento lá dentro”

“Eu estive lá há 5 minutos. Me disseram que você não ficou lá nem 3 minutos e que saiu depois. Que ligação foi essa de mais de 20 minutos? Está mentindo..”, ela o encarou.

“O que é isso heim, Minji? É um interrogatório agora?”

“Eu quero saber. Onde estava?

“Deixa de ser paranoica..”

“Com quem estava? Eu quero saber”, ela perguntou furiosa.

“Com ninguém! Qual é o seu problema heim Minji?”

Minji espremeu o rosto. Ela se sentou e puxou a jaqueta dele novamente.

“Não pense que pode me enganar. Eu estou aqui passando mal, uma cólica, sei lá. Estou precocupada porque pode ser alguma coisa com o bebê. E você sabe que ninguém pode saber. Estava precisando de você e onde estava? Não sei aonde. Não acha que já tá na hora de ter mais responsabilidades, heim, Seunghyun?”, ela falou séria.

Seunghyun se sentiu intimidado.

“Eu já disse que fui atender uma ligação.. Que diferença isso faz, Minji?”

“Faz muita diferença! Se você tivesse chegado mais rápido talvez eu não estivesse nervosa..”

Ele suspirou. “Haja paciência”, ele pensou.

“Eu não estou aqui? Então, tá tudo bem com você”

“Tudo bem? Como pode dizer isso? Por acaso sabe o que realmente aconteceu? Aconteceu uma coisa horrível e eu não sei se está tudo bem..”

Ele ficou pálido. Minji fez uma cara de dor e deitou na cama novamente.

“O que aconteceu, Minji?”, ele perguntou assustado.

Ela ficou em silêncio. Seunghyun ficou ainda mais nervoso.

“O que houve? Responde Minji”

Ela continuou em silêncio.

Seunghyun sentiu um frio na barriga. Ele teve tanto medo que quase desmaiou. “E se eu tivesse vindo mais rápido?”, ele pensou.

Minji começou a chorar. O corpo inteiro dela estava gelado. Seunghyun não sabia o que fazer.

Minji ergueu o corpo rapidamente e ficou branca igual a um papel.

Ela segurou-o no braço.

Fez uma cara horrível e vomitou. E em cima dele.  

Vomitou tanto que parecia que não ia parar nunca mais.

Seunghyun ficou em choque, não sabia o que fazer. Ele tentou erguer o corpo dela, mas ela estava muito fraca e não teve forças.

Até que a enfermeira chegou.

Minji estava muito mal. Ele se afastou dela.

“Pode deixar comigo”, disse a enfermeira apoiando o corpo da Minji.

Seunghyun apenas observou a habilidade da enfermeira. Ela segurou o corpo de Minji enquanto ela ainda vomitava. Quando parou, ela deitou-a de volta na cama e dobrou um travesseiro debaixo da cabeça dela. Minji ainda estava muito pálida.

A expressão de Seunghyun era de desespero. Ele nunca tinha visto alguém vomitar tanto. Normalmente ele vomitaria também, mas a situação de desespero deixou-o forte para encarar tudo.

Ele teve medo, muito medo. Teve medo pelo bebê e pela Minji.

“Ela vai ficar bem?”, ele perguntou.

“Sim. Ela já tomou um remédio. Ela deve ficar descansando pelo menos até se recuperar”

“Graças a Deus”, ele suspirou.

“Você é o que pra ela?”

Ele ficou em silêncio.

“Ele é meu namorado”, Minji falou.

Seunghyun se assustou.

“Ah então você pode ficar com ela. Vou ter que sair agora”, falou a enfermeira. Ela pegou uma bolsa e saiu.

Seunghyun ficou perto de Minji. Ela tocou a mão dele.

“Porque disse aquilo?”, ele perguntou.

“O quê? Que você é meu namorado?”

“Sim”

“Porque você é! Ou ia querer que eu dissesse a verdade? Que é meu noivo. Esqueceu do nosso segredo?”, ela puxou o braço dele pra mais perto do corpo dela.

“Está tudo bem com o bebê?”

“Acho que sim! Agora que você está aqui, tá tudo bem..”

 Ele ficou aliviado.

“Ficou com medo, Seunghoney?”, ela perguntou.

“E-eu? Nãão”

“Não quero mais ficar sozinha. Tive tanto medo sem você aqui. Pensei que fosse morrer quando cheguei aqui na enfermaria. Tive que dizer para enfermeira que comi uma comida estragada...Imagina só?”

Ele afastou o braço.

“Do jeito que falou pensei que tivesse acontecido alguma coisa horrível com o bebê. Porque não me disse que era só enjoo?”

“Como pode falar assim, seu insensível? Por acaso sabe o que é enjoo de grávida?”

“Não”

“Pois agora você já sabe”

Minji pegou o braço dele com força e trouxe para junto dela novamente.

“Temos que marcar logo a data do casamento. Não quero mais ficar longe de você. Você tem que cuidar de mim agora. De mim e do bebê”

Seunghyun tremeu o corpo. A palavra ‘casamento’ lhe dava arrepios. Principalmente ‘casamento com a Minji’.    

“Depois a gente decide isso. Agora descansa”,ele falou.

Minji adormeceu e Seunghyun permaneceu sentado ao lado dela.

Aqueles pensamentos o torturavam.

“Eu não quero casar com a Minji e muito menos ter um bebê com ela!” ele não parava de pensar.

Seunghyun perdeu o resto das aulas porque teve que ficar com a Minji na enfermaria. Ótimo! Isso não era nada bom pra tava tão ferrado em algumas matérias.